terça-feira, 23 de junho de 2009

Morrissey e Johnny Marr trabalhando juntos?


Artigo publicado originalmente no
TOM NETO.COM.

No finalzinho do ano passado, os eternos órfãos dos Smiths* [acima] ficaram alvoroçados com a notícia de que o vocalista Morrissey e o guitarrista Johnny Marr trabalhariam juntos em uma coletânea do extinto grupo. E não era boato.

The Sound of The Smiths [à esquerda, a capa] contou, de fato, com o envolvimento dos antigos parceiros: enquanto Morrissey escolheu o título do CD, Marr cuidou da remasterização das faixas.

Contudo, a despeito do “reencontro” dos dois artistas, essa compilação, em sua versão simples, é mais do mesmo para os fãs de primeira hora – que certamente possuem todos os álbuns da célebre banda de Manchester.

Sabendo disso, o que a gravadora faz? Coloca no mercado uma edição deluxe, dupla, que além de vários sucessos em suas gravações originais, traz raros lados B e versões ao vivo jamais lançadas oficialmente de “Handsome Devil”, “London” e “Meat Is Murder”. Vale a pena ouvir, por exemplo, a curiosa versão New York Vocal de “This Charming Man”.

Em tempo: apesar da colaboração das duas figuras centrais dos Smiths, não há nenhuma previsão sobre um possível retorno do grupo. Ofertas (milionárias) não faltaram – e foram todas recusadas. O motivo: as desavenças entre Morrissey, o baixista Andy Rourke** e o baterista Mike Joyce – motivadas por questões judiciais envolvendo direitos autorais – ainda não foram superadas...



* Para quem não sabe, Smith é o sobrenome mais comum que existe na Inglaterra. Equivale a Silva no Brasil. Os Smiths batizaram a banda com esse nome para deixar claro que os integrantes eram “pessoas comuns”.

** Atualmente, o baixista Andy Rourke é DJ, tendo, inclusive, tocado no Brasil três vezes – a mais recente foi no final do ano passado. Diante dessa informação, impossível não lembrar de “Panic”, cujo refrão ordena: “Hang the DJ” [“Enforquem o DJ”]. Profético, não?

Morrissey: vivo e chutando


CD
Years of Refusal (Universal Music) 
2009


Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 149 (maio de 2009).



‘Years of Refusal’, novo álbum de Morrissey, não economiza nas guitarras

Não é o caso de citar nomes. Mas é verdadeiramente patético ver artistas outrora relevantes e influentes se transformando, ao longo da carreira, em caricaturas de si próprios. Contudo, esse não é o caso de Morrissey, que está lançando o seu nono álbum solo de estúdio, Years of Refusal.

Desde a sua “ressurreição” artística – com o ótimo You Are the Quarry, de 2004 –, o ex-Smith só tem acertado. O anterior, Ringleader of the Tormentors (2006), aliás, não deixava a bola cair.

O atual, no entanto, é ainda melhor.

A despeito da passagem dos anos, a voz de Morrissey permanece inalterada. As letras do bardo de Manchester também continuam melancólicas e ácidas como sempre. Dessa vez, no entanto, as canções são emolduradas por guitarras ásperas, o que faz com que o artista soe “rejuvenescido”.

E o que é mais interessante: sem qualquer indício de “síndrome de Peter Pan”.

A virulência começa já na faixa inicial, “Something Is Squeezing My Skull” – que pode aplicar um baita susto nos seus fãs mais fenfíveis. E reaparece em vários momentos do disco, como “Mama Lay Softly On The Riverbed”, “Black Cloud” e “I'm OK By Myself”, que encerra o álbum.

Fato: Morrissey nunca gravou um trabalho tão pesado em toda a sua discografia. Nem mesmo nos Smiths.

Mas o cantor não perdeu a “ternura”. Prova disso são as suaves “You Were Good In Your Time” e “I'm Thowing My Arms Around Paris”, que não soaria deslocada em um disco de sua antiga banda. Outro bom momento é a longa e climática “It's Not Your Birthday Anymore”.

O projeto gráfico é um capítulo à parte. Morrissey, com pinta de mecânico, aparece na capa com o menino Sebastien Pesel-Browne – filho de Charlie Browne, um de seus assistentes – no colo.

Years of Refusal é o primeiro CD de inéditas do inglês editado pela Decca, representada no Brasil pela Universal Music. No ano passado, a gravadora havia lançado a compilação Greatest Hits [leia a resenha aqui], que adiantou duas faixas desse álbum: “All You Need Is Me” e “That's How People Grow Up”.

É um alento constatar que um dos maiores ídolos da década de 1980 não sucumbiu à mesmice. Decididamente, Mozz não perdeu a mão.


Leia também:



Veja o vídeo de “I'm Thowing My Arms Around Paris:

Manfred: estreia promissora


CD
Manfred (independente)
2009

Resenha publicada originalmente no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 149 (maio de 2009).


Seguindo os métodos de divulgação do Radiohead, o Manfred lança o seu primeiro álbum exclusivamente via web

Criado em 2005, o Manfred gravou, já no ano seguinte, um EP elogiado por veículos como O Globo. Mas agora é para valer: o trio carioca acaba de editar o seu primeiro álbum, epônimo, com dez faixas inéditas e autorais. E, a la Radiohead, o CD – que, a princípio, não sairá em versão “física” – está disponível para download gratuito no site oficial da banda [http://manfredbrasil.wordpress.com/].

A estratégia do grupo é simples: oferecer o disco de graça aos fãs significaria, ao mesmo tempo, estabelecer “cumplicidade” com o público e também “romper” com o mercado vigente. O Manfred prefere “ter milhares de downloads gratuitos do álbum, em vez de investir em algo ‘físico’ que, nos moldes fonográficos atuais, restringiria muito mais o acesso das pessoas a esse material e ao nosso som”.

A banda é formada por Marcos Manfredini (voz e guitarra), Guto Ribeiro (baixo) e Marcelo Carneiro (bateria). Guto, para quem não sabe, co-produziu, ao lado do pesquisador Marcelo Fróes, o Tributo ao Álbum Branco, dedicado ao clássico de 1968 dos sacrossantos Beatles. O Manfred, inclusive, participou do projeto com uma boa versão de “While My Guitar Gently Weeps”.

Os mais atentos certamente irão notar que o nome da banda alude a Manfredini, sobrenome de Renato Russo. E não por acaso: o saudoso líder da Legião Urbana era primo do vocalista Marcos, principal compositor do grupo.

Mas a Legião é apenas uma das influências do Manfred, juntamente com Keane, Coldplay e Travis, entre outros. Gravado entre março de 2007 e outubro de 2008, com (boa) produção da própria banda, o CD apresenta canções pop de inegável apelo radiofônico, embaladas por uma sonoridade vigorosa, típica de um power trio, como “Antes de Sonhar”, “Recomeçar” e “Me Espera”.

Contudo, há espaço para momentos mais serenos, como as baladas “Milagres”, “Chuva” e a bela “Paraíso”. As duas músicas “de trabalho” – já com clipe em vista – são “Voar” e “Quando Você Voltar”. Destaque também para “Enquanto o Mundo Continua a Girar”, provavelmente a melhor faixa do disco.

Depois da estreia promissora, a chegada do Manfred ao mainstream é apenas uma questão de tempo. Baixe já o seu.



Veja o vídeo de “Voar: