sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Caetano Veloso: tem mais samba... ‘indie’


CD
Zii e Zie (Universal Music)
2009


Compositor baiano tenta ‘atualizar’ o gênero em ‘Zii e Zie’, disco repleto de referências ao Rio

Quase três anos após o seu último disco de estúdio, o controverso , Caetano Veloso está de volta com Zii e Zie (Universal). Nesse intervalo, o artista baiano editou Multishow: Cê ao Vivo (2007) e Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim (2008), ambos disponíveis em CD e DVD.

Com o subtítulo de Transambas Transrock, o álbum foi gravado a partir do show Obra em Progresso, que gerou também um blog homônimo. Em obraemprogresso.com.br eram disponibilizados vídeos das músicas inéditas executadas no palco, e Caetano – que participava ativamente do site – “trocava ideias” com os internautas acerca das canções e outros assuntos.

Zii e Zie, a exemplo do trabalho anterior, foi gravado na companhia da ótima bandaCê, formada por Ricardo Dias Gomes (baixo), Marcelo Calado (bateria) e Pedro Sá (guitarra). Desse modo, as comparações com o seu antecessor são inevitáveis. A sonoridade permanece indie, “econômica”, o que assegura bons arranjos em rigorosamente todas as faixas. Pode-se dizer, portanto, que Zii e Zie e , são discos “irmãos”.

Contudo, se nem os irmãos são iguais... as diferenças entre as dois CDs são muitas.

Recentemente, o autor de “Oração ao Tempo” chegou a classificar como um “disco de heterônimo”. Já o novo trabalho já soa, efetivamente, como um álbum-de-Caetano-Veloso. Mas não o Caê “solene” e “camerístico” de Fina Estampa, com cordas arranjadas por Jacques Morelenbaum. E, sim, o Caetano-com-a-bandaCê.

O que faz uma grande diferença.


Semelhanças e dessemelhanças com ‘Cê’

A insuspeitada “pegada” roqueira do CD de 2006 aparece de maneira menos intensa em Zii e Zie, onde há maior diversidade rítmica. Exemplo disso é a eficiente “A Cor Amarela”, com ecos de samba de roda – na medida em que a bandaCê consegue soar como tal. A letra é bobinha (“Uma menina preta de biquíni amarelo / na frente da onda. / Que onda, que onda, que onda que dá, / que bunda, que bunda.”), mas... quem se importa?

Outra dessemelhança: os versos íntimos, sexuais e, eventualmente, raivosos de dão lugar ao Caetano que sempre tem opinião sobre tudo e sobre todos, e cita personagens tão díspares quanto Lula, Fernando Henrique Cardoso, Guinga, Francisco Alves, Los Hermanos, Kassin e Seu Jorge. No entanto, uma certa melancolia permanece nas letras.

A expressão que dá título ao álbum significa, em italiano, “tios e tias”. O compositor explica que “no Rio, somos todos chamados assim ‘pelos malabaristas de sinais de trânsito’”. O Rio de Janeiro, aliás, é a principal temática do CD, repleto de polaroides da cidade, como a crua “Perdeu”, espécie de “releitura contemporânea” de “Meu Guri”, de Chico Buarque, que conta a estória – história? – de um garoto do morro que se tornou chefe do narcotráfico.

A Cidade Maravilhosa (bem, já não tão “maravilhosa” assim...) também é retratada na boa “Lapa”, ode ao famoso bairro boêmio, e “Falso Leblon”, na qual o artista baiano fala sobre uma menina doidaça que convida para “dar uma e dar dois”.

Zii e Zie está repleto de bons momentos, como “Por Quem”, linda melodia um tanto prejudicada pelo registro vocal em falsete do cantor. “Diferentemente” é outra bela melodia que tem um quê de... chorinho – ou seria “transchorinho”? Tocada em público pela primeira vez no show A Foreign Sound, de 2004, a inteligente letra cita Madonna, Condoleeza Rice e... Osama Bin Laden.

Na linha discursiva de “Haiti”, há “Base de Guantánamo”, rap placebo acerca da famigerada prisão americana situada na ilha de Fidel Castro, sob um ritmo que lembra um “ponto” de candomblé: “O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano / é por demais forte, simbolicamente / para eu não me abalar”.


‘Transamba’ funciona nas duas canções não-autorais

Entretanto, a melhor faixa do disco é a curtinha (apenas dois minutos e meio) bossa – ok: “transbossa” – “Sem Cais”. A letra fala da possibilidade de amar, a despeito de qualquer contingência etária (“‘Inda’ posso me apaixonar”), e possui um bom trabalho de guitarra, cortesia de Pedro Sá, coautor da música.

Mas é justamente nas duas canções não-autorais do CD que o “transamba” encontra a sua mais completa tradução. “Incompatibilidade de Gênios”, primoroso samba de João Bosco e Aldir Blanc tem preservada a malandragem (no melhor sentido) típica do gênero, mas foi executada com o tal “timbre elétrico forte” buscado por Caetano – tem até solo de guitarra (!). O mesmo vale para a singela “Ingenuidade”, de Serafim Adriano. Curiosidade: as duas faixas integram o disco que Clementina de Jesus lançou em 1976.

Infelizmente, as desnecessárias provocações, a exemplo de “Homem” e da lusa “Porquê?” – ambas do álbum anterior – também se fazem presentes em Zii e Zie. É o caso da constrangedora “Tarado ni Você”, que cita “Nosso Estranho Amor” (“Deixa eu gostar de você.”). E também de “Lobão Tem Razão”, fraca, apesar do verso lapidar (“‘Chega de verdade’, é o que a mulher diz”). A canção é uma resposta a “Para o Mano Caetano”, que o Grande Lobo editou em Uma Odisseia no Universo Paralelo, gravado ao vivo em 2001.

Portugal, aliás, é novamente mencionado nesse álbum, na animadinha “Menina da Ria”, que fala maliciosamente sobre um... er, “púbis glabro”.

De qualquer forma, Caetano Veloso, em sua aventura indie, continua mestre em fazer justamente aquilo que não se espera dele. Entre (pouquíssimos) erros e (muitos) acertos, ele, mais uma vez, surpreende. E, francamente, dá gosto ver tamanha inquietação vinda de um artista prestes a completar 67 anos de idade.

Noel Gallagher: sonhos não envelhecem


CD
The Dreams We Have As Children (Big Brother)
2009


Apresentação beneficente gera o primeiro álbum solo do líder do Oasis

A exemplo de seu irmão, Liam, Noel Gallagher sempre posou de bad boy, seguindo a cartilha de marketing que os Rolling Stones utilizavam nos anos 60. Mas, na realidade, talvez não seja bem assim...

Prova disso é que Noel realizou, em março de 2007, um show solo no Royal Albert Hall, em Londres, em prol do Teenage Cancer Trust. E essa apresentação recebe agora registro em CD, intitulado The Dreams We Have As Children. É o seu primeiro trabalho longe do Oasis – e muito bom, diga-se de passagem.

Inicialmente encartado no jornal britânico The Times, o álbum apresenta, em suas 11 faixas, (boas) canções menos conhecidas de seu grupo, como “Listen Up”, “Married with Chidren” e “Sad Song”, além de sucessos como “Wonderwall” e “Slide Away” – esta, aliás, em uma ótima versão. Noel também arrisca um cover de seus conterrâneos de Manchester, The Smiths (“There Is a Light that Never Goes Out”).

Em “The Butterfly Collector”, do The Jam, o líder do Oasis tem a companhia de ninguém menos que Paul Weller, o autor da canção. Juntos, Gallagher e Weller também cantam “All You Need Is Love”, dos... er, você sabe quem.

A delicadeza dos arranjos majoritariamente acústicos – com direito a cordas e tudo – escancara o grande artífice que Noel é. Nas belíssimas “Don't Go Away” e “Half the World Away”, o líder do Oasis brilha. E, por não fazer feio diante do microfone, fica no ar a dúvida: por que ele tem aturado o mala do Liam durante todos esses anos, se ele pode muito bem fazer tudo sozinho?

O título do álbum saiu do refrão de “Fade Away”, lançada, a princípio, como lado B de “Cigarettes & Alcohol” – e posteriormente incluída na ótima compilação The Masterplan –, que abre o CD.

Recentemente, Noel declarou que, no final da turnê mundial Dig Out Your Soul, do Oasis, se dedicará a gravar um álbum solo, para valer mesmo, com canções inéditas gravadas em estúdio. E o mais provável é que saia coisa boa daí.

Em tempo: o músico disponibilizou no iTunes as cinco faixas que completam a íntegra do espetáculo. São elas: “It's Good to Be Free”, “Talk Tonight”, “Cast No Shadow”, “The Importance of Being Idle” e “Don't Look Back in Anger”, todas em versões impecáveis.

Coldplay: 0800


CD
Left Right Left Right Left (download gratuito)
2009



Em grande fase, banda disponibiliza CD ao vivo gratuitamente na web

A vitoriosa turnê Viva la Vida – do igualmente bem-sucedido álbum homônimo –, acaba de gerar um disco ao vivo. Left Right Left Right Left foi disponibilizado pelo Coldplay para download gratuito no endereço http://lrlrl.coldplay.com/leftright.html. É o Radiohead fazendo escola – e a banda de Chris Martin jamais escondeu sua admiração por Thom Yorke e companhia.

Em suas nove faixas, gravadas em várias partes do mundo, Left Right Left Right Left reúne quatro músicas de Viva la Vida (“Strawberry Swing”, “42”, “Death and All His Friends” e a faixa-título) e sucessos anteriores como “Fix You” e “Clocks” em versões corretas – os arranjos “respeitam” demais as gravações originais.

A única exceção é “The Hardest Part”, apresentada em um singelo arranjo de voz e piano, em medley com a vinheta instrumental “Postcards from Far Away”. Completam o repertório “Death Will Never Conquer” – cantada pelo baixista Will Champion –, single lançado logo após Viva la Vida, e “Glass of Water”, do EP Prospekt's March.

E, por falar em EP: a bem da verdade, Left Right Left Right Left pode ser considerado justamente isso, um EP “melhorado”. Para ser um disco ao vivo “de verdade”, seriam necessárias mais faixas, com hits como “The Scientist”, “Trouble” e, principalmente “Yellow”, além de boas faixas recentes como “Lost!”, “Violet Hill” e “Lovers in Japan”.

De qualquer forma, vale a pena ouvir, no decorrer do álbum, todo o entusiasmo do público com a banda inglesa. Em “Viva la Vida” – uma canção estupenda, que mereceu todo o sucesso que fez –, a plateia, em êxtase, continua cantando “ô ôô ôô”, mesmo depois de a música já ter acabado (!). Não por acaso, já eram contabilizados, até o fechamento desta edição, mais de 3,5 milhões de downloads (!).

O Coldplay declarou que, exceto em festivais, todas as pessoas que comparecerem a apresentações do grupo receberão uma cópia física de Left Right Left Right Left na saída do show. Esse gesto é um “agradecimento” da banda “às pessoas que compraram o nosso CD, mesmo em um período de crise mundial”.

Muito bem.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Roberto Carlos: meio século de reinado


Show
Itaú Brasil: Roberto Carlos – 50 anos
Data: 11 de julho de 2008
Local: Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro

Resenha publicada originalmente no
TOM NETO.COM.



Para comemorar seus 50 anos de carreira, o Rei realiza um show histórico no Estádio do Maracanã

Cerca de 68 mil pessoas, de todas as faixas etárias, suportaram o vento frio que insistia em soprar no Estádio do Maracanã, na noite de sábado, 11 de junho. Mas por um bom motivo: tratava-se do show de comemoração aos 50 anos de carreira de Roberto Carlos, cujas canções fazem parte da vida de milhões de brasileiros.

Às 21h45, o Rei entrou ao palco de maneira triunfal, dirigindo o seu Calhambeque azul, modelo 1929, devidamente reformado. Após saudar a sua orquestra e a plateia extasiada, afirmou: “É a maior emoção que já senti em minha vida estar aqui no Maracanã cantando para vocês. Quando estava lá em Cachoeiro [nota: do Itapemirim, sua cidade natal] jamais imaginei que podia viver um momento como esse”. E iniciou os trabalhos com o seu cartão-de-visitas, “Emoções”.

O repertório foi basicamente o mesmo dos shows que o cantor tem apresentado ao longo dos anos, com as músicas que seu público sempre espera ouvir, como “Outra Vez”, “Proposta”, “Café da Manhã” e, no já tradicional esquema banquinho-e-violão, “Detalhes”, entre outras.

Contudo, dada a importância da ocasião, RC incluiu canções que não costumam fazer parte de seu set list, como “Do Fundo do meu Coração”, de 1986. Repleta da “tensão” encontrada em momentos anteriores da obra do Rei – como “Sua Estupidez”, por exemplo –, a faixa é uma das melhores da segunda metade de sua carreira.

Em homenagem a seus pais, o cantor reuniu em um tocante medley que reuniu a bela “Aquela Casa Simples” a “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo” e “Lady Laura”. E até “Nossa Senhora”, há muito afastada do repertório do artista, foi relembrada, em um dos pontos altos do show.

No bloco dedicado à Jovem Guarda, Roberto, surpreendentemente, resgatou “Quando” – uma das melhores canções daquele período – e “Namoradinha de um Amigo Meu”, juntamente com “É Proibido Fumar”, “E por Isso Estou Aqui” e “Jovens Tardes de Domingo”.


Com Erasmo, o momento mais emocionante da noite

Em “Caminhoneiro” – outra que o Rei não cantava há tempos –, a chuva desabou sobre o Maracanã, o que fez com que RC paralisasse o show por cerca de dez minutos.

Já a escolha dos dois convidados foi bastante coerente: Erasmo Carlos e Wanderléa. Erasmo, por sinal, protagonizou o momento mais emocionante da noite. Após dirigir algumas palavras a Roberto através do telão, o Tremendão foi chamado ao palco. Os parceiros choraram abraçados e cantaram “Amigo” com muita dificuldade. Na sequência, já refeitos, relembraram momentos engraçados e emendaram com “Sentado à Beira do Caminho”.

Com a Ternurinha, também bastante emocionada, Roberto, como não poderia deixar de ser, cantou “Ternura”. Por fim, Erasmo juntou-se à dupla em “Eu Sou Terrível”.

Outro momento de grande emoção foi “Como É Grande O Meu Amor por Você”, cantada por um Maracanã em uníssono. Destaque também para o arranjo grandiloquente, de matizes épicos, de “Cavalgada”.

No gran finale, o estádio foi encoberto pela fumaça dos fogos de artifício, enquanto o Rei lançava rosas para sua fiel público, ao som de “Jesus Cristo”, coroando um dos melhores show de sua carreira. Um momento único, digno de um artista verdadeiramente singular.



Veja o medley que reuniu “Aquela Casa Simples”, “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo” e “Lady Laura:




E também “Amigo”, com participação de Erasmo Carlos:

‘Beat It’: o encontro de Eddie Van Halen e Michael Jackson


Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.

Logo após a notícia do falecimento de Michael Jackson, o guitarrista Eddie Van Halen [no detalhe, os dois ídolos juntos no palco] falou ao site TMZ sobre o astro do pop, com quem trabalhou no ínicio dos anos 80.

– Estou realmente chocado ao saber dessa notícia – assim como estou certo de que o mundo inteiro está. Tive o prazer de trabalhar com Michael em “Beat It”, em 1982, e essa é uma das melhores recordações de minha carreira. Michael fará falta. Que ele descanse em paz.

O líder do Van Halen contou histórias dos bastidores dessa gravação ao site Brave Words:

– Eu tinha este velho sistema de telefone no estúdio. O telefone tocou, atendi e tinha aquela voz dizendo: ‘Yo, Eddie? É o Eddie?’. Havia muito chiado, coisas desse tipo. Respondi: ‘Sim, quem é?’. Mas, obviamente, a pessoa não conseguia me ouvir. Então, desliguei, pensando que era um fã. O telefone tocou novamente, e a mesma voz disse: ‘Ei, Eddie!’. Então, dessa vez gritei ‘Imbecil!’, e desliguei. O telefone tocou pela terceira vez. ‘Ei, Eddie, aqui é Quincy Jones’. Nunca me senti tão envergonhado.

O exímio guitarrista prosseguiu:

– Naquela época, certas pessoas na banda não gostavam que eu fizesse coisas fora do grupo. Mas Roth [David Lee Roth, vocalista do Van Halen] estava na Amazônia ou em algum outro lugar; Mike [Michael Anthony, baixista] estava na Disneylândia; Al [Alex Van Halen, baterista e irmão de Eddie] estava no Canadá, ou algo do tipo; e eu estava em casa, sozinho. Então, pensei: ‘Bem, eles nunca saberão. Sério: quem vai saber que eu toquei no disco de um cara negro?’ Michael me disse: ‘Amo essa música alta e rápida que você faz’.

E concluiu:

– Toquei dois solos e disse: ‘Caras, peguem o que vocês quiserem’. Foram apenas vinte minutos do meu dia, fiz isso de graça e depois todos ficavam me dizendo: ‘Você deveria ter algum royalty naquela música’. Mas isso não importa, pois Quincy Jones escreveu para mim uma carta de agradecimento, e assinou ‘O Imbecil’. Eu a emoldurei. Clássico.

Detalhe: “Beat It” chegou às paradas no dia 12 de março de 1983, permanecendo por 15 semanas e alcançando o 1º lugar nos EUA, Países Baixos e Espanha; 2º lugar na Suíça; e 3º lugar no Reino Unido.


***


Ah, sim: somente o inconfundível solo de “Beat It” foi gravado por Eddie Van Halen. As demais guitarras foram executadas por Steve Lukather, mais conhecido por seu trabalho com o grupo Toto.


Veja o clipe de “Beat It:



Veja também o vídeo que apresenta somente os canais de aúdio das guitarras de Steve Lukather e Eddie Van Halen. Uma verdadeira aula:



E confira o vídeo que destaca o inconfundível solo de Eddie:

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Paul McCartney e Michael Jackson: relações cortadas



Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


O Rei do Pop e o ex-Beatle não se falavam há quase vinte e cinco anos. Saiba por quê

Paul McCartney não deixou de se manifestar publicamente por ocasião da morte de Michael Jackson:

– Minhas memórias são de seu grande senso de humor e como nós brincávamos e dávamos risadas juntos. Minha família manda as mais sinceras condolências e, assim como eles, sabemos que o talento de Michael nunca será esquecido.

O que nem todos sabem é que o Macca e MJ não se falavam há vinte e quatro anos.

Após algumas colaborações, os dois artistas ficaram amigos – a despeito da diferença etária entre ambos. E, em um determinado momento, McCartney aconselhou Michael a investir nos direitos autorais de canções famosas [nota do blog: falei sobre isso aqui]. Jackson saiu-se com essa:

– Vou comprar as suas músicas.

A princípio, Paul pensou que se tratava de uma brincadeira de Michael, como relatou em entrevista concedida ao jornalista e apresentador britânico David Frost em 1997.

– Não levei a sério o que ele havia dito. Tempos depois, quando soube que ele realmente havia feito isso, fiquei perplexo. Tentei falar com ele – até mesmo para fazer uma contra-proposta. Mas ele havia trocado todos os telefones...

McCartney franziu a testa. E completou:

– Posso dizer que passei a não gostar muito dele depois disso.


‘Sempre que quero tocar ‘Hey Jude’, preciso pagar’

Em 1985, Michael Jackson adquiriu a Northern Songs – editora que detém todo o catálogo dos Beatles – por US$ 47,5 milhões. Paul ficou furioso. E jamais escondeu isso:

– A coisa mais chata é ter de pagar para tocar algumas de minhas próprias músicas. Cada vez que quero tocar ‘Hey Jude’, preciso pagar.

Em janeiro desse ano, o tabloide inglês The Mirror noticiou que MJ gostaria de se reaproximar de McCartney. Para isso, pretendia deixar para Paul, em testamento, os direitos autorais sobre o catálogo dos Fab Four. De acordo com o jornal, pessoas próximas a Jackson afirmaram que ele sempre lamentou sua briga com o ex-Beatle.

Entretanto, o testamento de Jackson – redigido em 2002 – foi divulgado uma semana após a sua morte. Paul não foi citado no documento. E, em nota publicada em seu site oficial, parecia conformado com isso:

– Meses atrás, a mídia veio com a ideia de que Michael Jackson iria deixar, em testamento, a sua parte das canções dos Beatles para mim – o que foi uma invenção completa, na qual não acreditei nem por um segundo.

Em 1995, Jackson vendeu de 50% do catálogo para a Sony. Há cerca de dois anos, a imprensa afirmou que o cantor – que lucrava, por ano, cerca de 40 milhões de euros (cerca de R$ 129,5 milhões) com os direitos pelas músicas – provavelmente venderia a metade restante à gravadora, por conta de suas dívidas milionárias com fundos de empréstimos.

Há três anos, a parte de Jackson estava avaliada em torno de US$ 1 bilhão (R$ 6,3 bilhões). Mesmo encalacrado em dívidas, o cantor conseguiu manter o catálogo – assim como o rancho Neverland, que quase foi a leilão no início deste ano.

Morre Michael Jackson



Artigo publicado originalmente no TOM NETO.COM.


Qual o legado deixado pelo artista que revolucionou os videoclipes e gravou o disco mais vendido da história?

Aos dez anos de idade, eu era um menino absolutamente fissurado por Thriller (1982), de Michael Jackson [no detalhe]. Um álbum estupendo. Não por acaso, tornou-se o mais vendido de toda a história: 104 milhões de cópias. Ganhei o vinil de presente de alguém – não me recordo quem -, e, através dos videoclipes, aprendi, em pouco tempo, a incrível coreografia do artista. Inclusive o famoso moonwalker.

(Alguns familiares lembram até hoje do menino branquelo que reproduzia à perfeição os passos de dança de Jackson. Sorte minha que ninguém filmou isso na ocasião. Acho que ficaria bastante constrangido hoje em dia...)

Os videoclipes de Jackson, aliás, eram um capítulo à parte. Assim como os Beatles alçaram a música pop ao status de arte, na década de 1960, MJ fez o mesmo em relação aos clipes, nos anos 80 e 90. A linguagem nunca mais foi a mesma de depois do fantasmagórico “Thriller” e do surpreendente “Black or White”.

O superproduzido vídeo de “Thriller” deixou o planeta, diga-se de passagem, simplesmente boquiaberto. Com seus quase quatorze minutos de duração, não é errado dizer que trata-se de um curta-metragem. Já “Black or White” ficou marcado pelo efeito especial de “metamorfose” de seus personagens

Entretanto, o disco que sucedeu Thriller, o bom Bad (1987), não despertou em mim, nem de longe, o interesse de antecessor. Não deixava, porém, de ser um bom disco, com faixas como “The Way You Make Me Feel”, “Man In The Mirror” e a belíssima “I Just Can't Stop Lovin' You”.

Jackson ainda obteve boa repercussão do trabalho posterior a Bad, Dangerous (1991), com hits como a supracitada “Black or White”, “Heal The World”, “Remember The Time” e “Will You Be There”. Mas seu último CD de inéditas, ironicamente batizado de Invencible (2001), passou em brancas nuvens.


Polêmicas passaram a ocupar o lugar da música

Todas essas lembranças vieram à tona no exato momento em que soube do precoce – e, por isso mesmo, inesperado – desaparecimento do cantor americano, de 50 anos de idade. Fiquei consternado, obviamente.

Com um histórico recente de polêmicas (como a acusação – não comprovada – de pedofilia) e bizarrices (com o embranquecimento de sua pele e as operações plásticas que destruíram seu rosto), as notícias sobre Michael Jackson passaram a ser majoritariamente extra-musicais. Uma pena.

Todos, de certa forma, imaginavam que essa história não acabaria bem. E, lamentavelmente, a má impressão acabou se confirmando.

Contudo, a despeito dos escândalos, seu legado artístico permanecerá. Canções como “One Day In Your Life”, “Got To Be There”, “I Wanna Be Where You Are” e “Music And Me”, entre outras, emocionaram e ainda emocionam milhões de pessoas ao redor do mundo. E continuarão emocionando, sem dúvida alguma.

Que ele possa descansar em paz.



Veja os clipes de “Thriller...







...de “Black or White...





...e também da apresentação de “Billie Jean” na comemoração do aniversário de 25 anos da gravadora Motown. Uma imagem tão emblemática quanto a de Gene Kelly “cantando na chuva”: