sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Paul McCartney: passado sempre presente



CD 
Memory Almost Full (Hear Music)

2007



Resenha publicada originalmente no Tom Neto.com




Em seu novo disco, Memory Almost Full, o ex-Beatle fala de suas lembranças. E também da idéia de fim.


Desde o lançamento de seu último álbum de inéditas, o belo e introspectivo Chaos And Creation In The Backyard (2005), Sir Paul McCartney não viveu momentos exatamente... tranqüilos. O ex-Beatle, depois de décadas na EMI, mudou de gravadora e viu o seu divórcio virar manchetes no mundo inteiro.

Apesar das intempéries, Memory Almost Full, ironicamente, soa mais... alegre do que o seu trabalho anterior. Este é o 21º disco solo de McCartney - o primeiro pelo selo Hear Music, empreendimento que envolveu a rede de cafeterias Starbucks e a gravadora Concord Music, o que fará com que seja comercializado tanto em lojas convencionais como nas filiais da Starbucks. Também será a primeira vez em que Paul disponibilizará um CD seu em formato digital. Consta que Macca ficou insatisfeito com a divulgação de Chaos And Creation ("a EMI não fez nada pelo álbum nos EUA") - e a ele foi prometido que o mesmo não aconteceria dessa vez.

O título alude à linguagem dos computadores, mas a intenção é mais ampla. Paul refere-se à sua própria "memória", repleta de recordações alegres e tristes de uma longa vida. O próprio músico definiu o trabalho como "um disco muito pessoal e, em muitos momentos, retrospectivo, desenhado da memória, como lembranças de garoto, de Liverpool e verões passados. (...) Creio que isso acontece porque estou nesse ponto de minha vida, mas então penso nas vezes que compus com John - e muito daquilo também foi feito olhando para trás. É como eu mesmo em 'Penny Lane' e 'Eleanor Rigby' - ainda estou usando os mesmos truques!"

De fato: ouvintes atentos encontrarão referências (intencionais?) a vários momentos da carreira do ex-Beatle nas 13 faixas do álbum - todas inéditas. O maior potencial comercial, no entanto, reside em "Ever Present Past", que já nasce clássica. Trata-se de uma verdadeira pérola pop, daquelas que ele (autor de algumas das mais lindas melodias do mundo) sabe fazer como poucos. E que certamente deverá funcionar muito bem ao vivo.

"Dance Tonight" é uma canção simples, descontraída, marcada por um bandolim que lhe confere ares folclóricos. "See Your Sunshine" soa, desde os vocais da introdução (bem ao estilo de sua finada esposa Linda McCartney, aliás), como algo do Macca circa anos 80 - tipo Pipes of Peace. "Only Mama Knows" começa com um suave arranjo de cordas. Subitamente, entram as guitarras, a cozinha rítmica - e, ao iniciar o vocal, o andamento acelera. A partir daí, temos uma faixa vigorosa, estilo "Junior's Farm".

A melódica e tristonha "You Tell Me" é estruturada ao violão de aço e cantada em falsete. "Mr. Bellamy" - um dos melhores arranjos do álbum - passeia entre o sombrio e o delicado. "Gratitude" é uma balada ao piano, com um leve sabor R&B, que mostra McCartney cantando de modo visceral, como em "Maybe I'm Amazed". Na letra, bastante pessoal, ele diz que, apesar de tudo, não quer "trancar o coração". E emociona:


Eu estava sozinho, vivendo com uma lembrança. 

Mas minhas noites frias e solitárias terminaram
quando você me protegeu.

Amado por você, eu era amado por você -
Quero lhe mostrar minha gratidão.



O espectro dos Beatles se faz presente, em especial, na suíte que engloba quatro músicas da segunda metade do álbum, numa inequívoca referência a Abbey Road: "Vintage Clothes" (curiosamente, uma visão crítica da nostalgia), prima de "If I Needed Someone", de George Harrison; os bons solfejos da discursiva "That Was Me" (que lembra bastante "Spinning On An Axis", de Driving Rain, 2001); "Feet In The Clouds" (impossível não pensar em "Every Night"), na qual vocoder e cordas convivem harmoniosamente; e "House of Wax", uma faixa de matizes épicos - e que apresenta um belo solo de guitarra.

"Nod Your Head", que encerra os trabalhos, é cantada de modo raivoso - ele tem a sorte de a sua voz não ter envelhecido nadinha - o que remete o ouvinte imediatamente a "I'm Down" ou "Helter Skelter".



Álbum mantém o nível do primoroso CD anterior


Já "The End Of The End" merece ser ouvida com uma atenção toda especial. Esse é o momento mais pungente de todo o álbum - e certamente um dos mais intensos de toda a carreira do baixista. Poucas vezes ele permitiu-se ser tão... autobiográfico. Depois da desilusão do fim de seu segundo casamento, Paul, aos 65 anos, talvez já consiga vislumbrar... o fim da estrada. Em versos comoventes, McCartney expõe os seus "últimos desejos". E mostra-se, inclusive, espiritualizado:



No final do final,

é o começo de uma viagem para um lugar muito melhor -
e isso não seria ruim.


Então, um lugar muito melhor teria que ser especial -

não precisa ser triste.
No dia em que eu morrer,

gostaria que piadas fossem contadas.
E estórias antigas sendo roladas como carpetes

nos quais as crianças brincaram. (...)



Produzido por David Kahne (que já trabalhou com Sublimes, Strokes e Bruce Springsteen), Memory... começou a ser concebido, na verdade, em 2003 - tendo sido interrompido para dar lugar a Chaos And Creation. E, a exemplo deste último e dos dois trabalhos anteriores - os bons Flaming Pie (1997) e o já mencionado Driving Rain - em Memory... Paul gravou sozinho praticamente todos os instrumentos.

[Nota: consta que Nigel Godrich, o produtor do último álbum, teve peito para rejeitar várias canções que McCartney levou para o estúdio durante as gravações, o que acabou gerando atritos entre os dois. Conclusão: algumas dessas faixas do disco novo podem ser as tais em que Paul acreditava - mas que não agradaram a Godrich.]

Memory Almost Full, além de manter o nível de seu primoroso antecessor, é um trabalho absolutamente condizente com a (ímpar) trajetória do músico. E não deixa de ser admirável o fato de Paul, mesmo tendo um nome a zelar, não abrir mão de criar, de olhar para frente - ainda que esse olhar carregue uma certa... nostalgia.

Mas não seria justo culpá-lo por isso: afinal, recordações... ele deve ter de sobra.

Erasmo: pequenos (grandes) momentos de uma obra brilhante

CD Erasmo Carlos Convida - Volume II (Indie Records)
2007


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 133 (junho de 2007).



Em Erasmo Carlos Convida - Volume II, o Tremendão recebe justa reverência Certa vez, Erasmo Carlos definiu-se como "um roqueiro que compõe com violão de nylon", espécie de elo perdido entre o rock e os gêneros brasileiros tradicionais, como o samba e a bossa nova. E essa versatilidade estética é um dos motes principais de Erasmo Carlos Convida - Volume II, recém-lançado pela Indie Records.



Exatamente 27 anos depois do cavalo-de-vendas Erasmo Carlos Convida, o Tremendão decidiu repetir a dose: convocou nomes ilustres para reler alguns momentos de uma obra simplesmente brilhante. E conseguiu o que provavelmente o que nem todos imaginavam: realizar um disco de duos tão bom quanto o anterior. Na verdade, muitos irão considerá-lo até... melhor.


Lulu Santos mandou muitíssimo bem em "Coqueiro Verde": ligou os seqüenciadores e concebeu o que poderíamos chamar de "samba do século XXI". Zeca Pagodinho conseguiu a façanha de transformar "Cama e Mesa" em uma música sua - e, por tabela, reabilitar uma das menos inspiradas parcerias de Roberto & Erasmo. Adriana Calcanhotto, no entanto, está apenas regular em versão um tanto Aqualung de "Ilegal, Imoral ou Engorda".


Los Hermanos optaram por um (eficaz) enfoque intimista para "Sábado Morto", originalmente lançada no clássico Sonhos & Memórias (1972). O Skank, por sua vez, está perfeito em sua releitura sessentista para "Banda dos Contentes", faixa-título do álbum de Erasmo de 1976. Já o alardeado apreço do lendário roqueiro pela MPB é exposto no ótimo dueto com Os Cariocas em "Pão de Açúcar (Sugar Loaf)". O veterano conjunto permanece irrepreensível nas harmonias vocais.




"Não Quero Ver Você Triste" é gravada com sua rara letra


Um dos momentos de maior destaque é gravação de "Olha", em que Chico Buarque parece confortável como se cantasse algo de sua autoria. Chico, aliás, vestiu a pérola de 1976 com a mesma elegância das suas gravações nos últimos vinte anos. Djavan e Marisa Monte emocionam, respectivamente, nas singelas "De Tanto Amor" e "Não Quero Ver Você Triste". Esta última oferece um atrativo extra: foi gravada com a rara letra escrita por Mário Telles, irmão da cantora Silvinha Telles. Esse é o terceiro registro da canção com essa letra - além de Mário, Claudette Soares também havia gravado.


Produzido por Mú Carvalho (A Cor do Som), trata-se de um álbum quase irretocável - são três as exceções (que, mesmo assim, não comprometem o excelente resultado final da empreitada): "Vou Ficar Nu para Chamar sua Atenção", com participação de Simone, que havia recebido ótimas versões de Erasmo (em 1970, no álbum Erasmo e Os Tremendões) e Roberto (em 1976); "O Portão", na qual o Kid Abelha não conseguiu transmitir a carga emocional que a faixa exige; e "Emoções", com o grande Milton Nascimento, canção cuja versão original está de tal maneira cristalizada no inconsciente popular, que é praticamente impossível alguém reler de modo satisfatório (o artista, vestido de branco, entrando no palco com um sorriso nos lábios, a orquestra tocando...)


De qualquer forma, Erasmo Carlos Convida II presta um grande serviço: homenagear este que é, sem dúvida, um dos maiores autores de música popular desse país, em todos os tempos.


E tenho dito.

A nova aventura de Damon Albarn

CD The Good, The Bad & The Queen (EMI)
2007


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 133 (junho de 2007).



Na companhia de figurões, o líder do Blur apresenta o seu novo projeto: The Good, The Bad & The Queen

Depois da literal "banda desenhada" [nota: esse é o termo utilizado em Portugal para designar história em quadrinhos] Gorillaz, muita gente esperava de Damon Albarn um novo álbum do Blur. Pois é, não foi dessa vez. O músico britânico optou por recrutar Paul Simenon (sim, esse mesmo: o baixista do Clash), Tony Allen (baterista de Fela Kuti) e o guitarrista Simon Tong (Verve) para pôr em prática o projeto The Good, The Bad & The Queen. O grupo, além de ter tocado na edição desse ano do conceituado Coachella Music Festival, na Califórnia, acaba de editar mundialmente o seu primeiro álbum, epônimo, pela EMI.

Quem imaginava que daí resultaria algo próximo de uma obra-prima pop - considerando o currículo dos envolvidos - terá mais um desapontamento: Albarn realizou, na verdade, um trabalho com forte influência folk. Você pensou agora em... sei lá, Cat Stevens? Esqueça.

Produzido por Danger Mouse (que vem a ser metade do duo Gnarls Barkley e também responsável pelo segundo disco do Gorillaz, Demon Days, 2005), o álbum realmente abusa dos violões. Mas os arranjos são temperados com efeitos viajandões mais facilmente encontráveis no dub jamaicano, criando uma atmosfera quase sempre soturna - que pode soar tediosa a alguns.

Embora a primeira da bolacha, a sombria "History Song", possa assustar as criancinhas, é claro que Albarn não perdeu a manha de compor canções assobiáveis: "Kingdom Of Doom" possui melodia britpop; "Northern Whale", a melhor do disco, tem um quê de John Lennon; e "80's Life" apresenta harmonias vocais típicas dos Beach Boys. Todas, entretanto, foram revestidas por um verniz experimental. Destaque também para "Green Fields", "Herculean" e a longa faixa-título, que finaliza os trabalhos com seus sete minutos de duração.

The Good, The Bad & The Queen tem lá seus momentos interessantes. Seu mérito maior, entretanto, é estar bem distante do óbvio.

Mas não é para qualquer ouvido.

O problema é que muita gente espera que Damon Albarn ainda venha a compor uma nova "Tender"...

Jorge Vercilo: os pingos nos is

CD/DVD Ao Vivo (EMI)
2006


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 133 (junho de 2007).



Cantor carioca faz um balanço da carreira em CD e DVD ao vivo

Quase doze meses após o seu lançamento, Ao Vivo (também editado em CD, pela EMI), o mais recente trabalho do carioca Jorge Vercilo, foi recentemente laureado com o DVD de Ouro. Pelos novos parâmetros adotados pela APPB (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), as quase trinta mil cópias vendidas credenciam o músico à premiação. Esse é o seu segundo DVD - o primeiro foi Livre, 2003. No mês passado, Jorge também recebeu o Prêmio Tim, na categoria Melhor Cantor Pop.

Vercilo é um daqueles típicos casos de artista que tem público cativo - e cada vez mais numeroso - , mas que, por outro lado, não obtém respaldo por parte da crítica "especializada" (sim, com aspas). Mas por que será?

Como autor, a sua competência já está provada. Quem, em sã consciência, poderia dizer que a intensa "Fênix" é ruim? E o que deve "Do Jeito que For", digamos, à bela "Queixa", de Caetano Veloso? Além das duas citadas, Jorge compôs finos biscoitos pop como "Invisível", "Homem Aranha" e a carioquíssima "Que Nem Maré", o grande sucesso de sua carreira até o momento. O mesmo, no entanto, não pode ser dito sobre "Mona Lisa" - tentativa vã de repetir o êxito dessa última - e a embaraçosa inédita "Vela de Acender, Vela de Navegar" ("Vê-la me deixa assim a pé/ Vê-la me dá certeza de quem eu sou/ pra deixar de ser mané." Então, ...)

Bem, de qualquer forma, o saldo dele ainda é bastante positivo.

Como intérprete, ele também convence: basta ouvir a sua versão para "Beatriz", a jóia de Edu Lobo e Chico Buarque, cuja melodia sinuosa é simplesmente proibitiva para muitos que se cadastraram na Ordem dos Músicos como "cantores".


Munição para convencer os incrédulos

As restrições da crítica são, basicamente, duas. Em primeiro lugar: exatamente como Pedro Mariano, Vercilo sofre de uma certa... indefinição estilística. As pessoas eventualmente não sabem se ele pop ou se é MPB - e, com isso, ele acaba não sendo nem uma coisa... e nem outra. O curioso é que ele funciona bem tanto na seara da MPB - na supracitada "Beatriz" - quanto como músico pop. No DVD, dois bons exemplos são: "Signo de Ar" (parceria com Nico Rezende) e "Final Feliz" (já gravada pelo Só Pra Contrariar, com participação de ninguém menos do que o já mencionado Caetano), em que o aparentemente tímido Vercilo esquece um pouco o violão e evolui pelo palco.

Segundo: a crítica o acusa de ser (reparem o eufemismo) "excessivamente reverente" a Djavan - no timbre, maneirismos vocais, arranjos, batida de violão, etc. E o pior é que, ambos os casos... a bronca procede. Contudo, não se trata de questões que não possam ser reavaliadas. E corrigidas.

Não é o caso, portanto, de descredenciar o seu trabalho

Além de boa entrevista, making of, e delirante video release de Jorge Mautner, o DVD traz, nos extras, duas faixas bônus: "Abismo", dueto um tanto frio com Ana Carolina; e a descontraída "Pela Ciclovia", com participação de Leila Pinheiro (que a gravou em seu bom álbum Nos Horizontes do Mundo, 2005) e do craque Marcos Valle, parceiro de Vercilo na canção. O clipe dessa última foi gravado na praia do Leme, bairro natal do anfitrião.

Acredite: Ao Vivo pode até não ter munição para convencer aos detratores. Mas aos incrédulos, sim. E, pelo que se sabe, Vercilo é um sujeito batalhador, que lutou bastante para conquistar a notoriedade que hoje desfruta.

Mas a verdade é que ele poderia ir ainda mais longe.

Quer saber? Torço por ele.

Almir Sater e Renato Teixeira: vozes de um outro Brasil

CD 7 Sinais (Velas) e CD/DVD No Auditório Ibirapuera (Som Livre)
2007


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 133 (junho de 2007).



Os parceiros Almir Sater e Renato Teixeira prosseguem cantando as coisas da terra em seus novos trabalhos

Existe um Brasil bem diferente daquele que nós, moradores das grandes capitais, conhecemos - e que muitos, na verdade... nem conhecem. E esse outro Brasil é um lugar onde ainda se ouve a cigarra (e não tiros) anunciando o sol do dia seguinte e onde, pela manhã, o galo ainda canta - assim como os pássaros à tarde. Nesse país diferente, as pessoas não têm tanta pressa, conseguem sorrir e o mato... ainda cresce.

E essa terra é cantada com grande propriedade pelos notáveis (e parceiros) Almir Sater e Renato Teixeira, ambos com novos trabalhos: 7 Sinais (Velas) e No Auditório Ibirapuera (Som Livre), respectivamente.

7 Sinais é um álbum que traz dez faixas inéditas e autorais de Sater, onze anos depois de Caminhos me Levem, seu último disco. Em seu novo trabalho, além de exibir o virtuosismo de sempre nas dez cordas, o violeiro permanece fiel em cantar as coisas da terra. A letra de "No Rastro de Lua Cheia" (cujo co-autor é o próprio Renato) é a mais genuína poesia do campo:

No quintal lá de casa, passava um pequeno rio
que descia lá da serra, ligeiro e escorregadio.

A água era cristalina, que dava para ver o chão -
ia cortando a floresta, na direção do sertão.



A sanfona de Dominguinhos se faz presente na brejeira "Lua Nova". Outros pontos altos do disco são "Planície de Prata", "Horizontes" (outra parceria com Teixeira) e a instrumental "Pitiguyri", composta com Tavinho Moura.

Já Renato Teixeira, definido certa vez por Fábio Jr. como
"o maior poeta caipira desse país", revisa sua extensa trajetória em No Auditório Ibirapuera, editado também em DVD. O compositor consegue comover a platéia com canções como "Amora", "A Primeira Vez que Fui ao Rio" e a linda "Tocando em Frente", que recebeu ótimo registro na voz de Maria Bethania na década de 1990.

"Recado", sucesso de Joanna nos anos 80, é cantada solitariamente pela própria. Pena Branca, que fazia dupla com o finado Xavantinho, participa de "Quando o Amor se Vai". E "Frete", famosa como o tema da série Carga Pesada, tem como convidados Chitãozinho & Xororó. "Romaria", o maior êxito de sua carreira (célebre na voz de Elis Regina), encerra o espetáculo.

O DVD (o primeiro de Renato) apresenta seis faixas a mais do que o CD, entre elas a bela "Amanheceu, Peguei a Viola" (que se tornou conhecida como tema de abertura do extinto programa Som Brasil, apresentado por Rolando Boldrin) e "Um Violeiro Toca", co-escrita justamente com... Sater.

Almir Sater e Renato Teixeira são as vozes desse outro Brasil mais bonito e bem melhor para se viver. Esse país que nunca vai morrer.

Nando Reis grava ao vivo. De novo.

CD e DVD Luau MTV (Universal)
2007


Resenha publicada no jornal
IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 133 (junho de 2007).



Ex-Titã realiza o seu terceiro trabalho de caráter retrospectivo em apenas seis anos

Menos de doze meses após o seu último trabalho, Sim e Não, Nando Reis, sempre acompanhado de sua banda Os Infernais, coloca no mercado Luau MTV (Universal). O repertório conta com canções do supracitado Sim e Não (como a delicada "Espatódea", "N" e a pop "Sou Dela"), alguns momentos de sua carreira solo ("Quem Vai Dizer Tchau?" e "A Minha Gratidão é uma Pessoa", lançada, na verdade, pelo Jota Quest) e uma inédita, a mediana "Tentei Fugir". "As Coisas Tão Mais Lindas", gravada originalmente por Cássia Eller, recebe, pela primeira vez, registro do autor.

A primeira música de trabalho é "A Letra A", faixa-título de seu álbum de 2003. Na ocasião de seu lançamento, a (boa) canção não foi trabalhada e recebe agora seu terceiro registro (já havia sido gravada no MTV Ao Vivo de Nando, 2004). O DVD será editado ainda esse mês.

Claro, não poderiam faltar os convidados - e Samuel Rosa foi deles. O líder do Skank faz um duo com Nando nas parcerias "Resposta" e "Eu e a Felicidade", ambas gravadas originalmente pelo grupo mineiro (sendo que esta última - faixa do bom CD Carrossel - jamais havia sido registrada pelo ex-Titã).

Andreas Kisser está em "Sua Impossível Chance" (a única canção do período Titãs que integra o set list) e na libidinosa "Monóico". Negra Li participa de "Negra Livre", composição de Nando que acabou batizando o segundo do disco da cantora. E na boa "Luz dos Olhos", o músico recebe a companhia de Andréa Martins, vocalista da banda baiana de rock alternativo Canto dos Malditos na Terra do Nunca.

Não resta dúvida de que Nando Reis é um bom compositor. Já escreveu canções de beleza indiscutível como "Por Onde Andei" e "Relicário", entre outras. Aliás, verdade seja dita, hoje ele é um artista mais relevante do que o seu ex-grupo. E Luau MTV, sem dúvida, é um trabalho bem bacana - suas composições se beneficiam bastante do formato acústico. Mas será que, estando com um ainda recente álbum de estúdio na praça - e que certamente não teve todas as suas possibilidades exploradas - era mesmo necessário realizar o terceiro trabalho de caráter retrospectivo em apenas seis (!) anos? Afinal, além do já mencionado MTV Ao Vivo, houve também Infernal, 2001, com sucessos gravados em estúdio.