sábado, 6 de janeiro de 2007

Eric Clapton: lar, doce lar


CD 
Back Home (Reprise/Warner)
2005


Resnha publicada no jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE, edição nº 117 (novembro de 2005).



Após dedicar-se nos últimos quatro anos a projetos especiais (o ao vivo One More Car, One More Ride, 2001, resultante da que foi - segundo foi noticiado na época - a sua "última turnê mundial"; e o CD com músicas do pai do blues Robert Johnson, Me & Mr. Johnson, 2004), Eric Clapton lança Back Home, primeiro álbum de inéditas desde o reflexivo e irregular Reptile.

Se o trabalho anterior trazia um Clapton nostálgico e melancólico pelo falecimento de seu tio Son (a quem o deus da guitarra tinha como um pai), Back Home mostra que, depois anos de trevas, marcados por tragédias pessoais (tais como: o vício em heroína; a morte de inúmeros grandes amigos; o alcoolismo; e - o pior de tudo - a queda fatal de seu filho de um edifício em Nova York), o músico parece atravessar um bom momento pessoal.

Mesmo o ótimo Pilgrim, incompreendido CD de 1998 muito influenciado pela estética do lendário músico norte-americano Curtis Mayfield e pelo produtor Babyface (cuja colaboração rendeu, em 1996, um single de estrondoso sucesso, "Change The World"), não trazia a leveza desse novo trabalho. A primeira música já dá a senha: "So Tired" é um pop ensolarado, totalmente radiofônico (assim como "One Track Mind", a décima faixa). A seguir, Clapton faz um insuspeitado retorno ao reggae com a deliciosa "Say What You Will", que é sucedida pela pulsante "I'm Going Left", do genial Stevie Wonder - repetindo Reptile, em que gravou brilhantemente "I Ain't Gonna Stand For It". O ritmo jamaicano aparece ainda em "Revolution" (que cita "The Last Time", dos Rolling Stones), quinta faixa de Back Home.

Por ser, de fato, um dos mais fenomenais guitarristas da música pop de todos os tempos (perdendo, talvez, somente, para Jimi Hendrix), sempre há uma atenção quase exclusiva ao lado instrumentista de Eric Clapton. Trata-se de um equívoco: com a experiência de todos esse anos, ele tornou-se um arranjador soberbo, além de mostrar-se hoje muito melhor também como cantor, inclusive - prova disso é o tocante r&b "Love Don't Love Nobody", interpretada com enorme intensidade.

Mas, evidentemente, o blues não poderia deixar de comparecer em um álbum do Slowhand : "Lost And Found" cumpre esse papel, com as competentes guitarras de um verdadeiro papa do estilo. Fechando o álbum, Eric Clapton parece recorrer uma vez mais a Reptile, no suave country que dá título ao CD (lembrando - e muito - "Modern Girl")

Além das boas composições inéditas, o álbum traz uma excelente gravação de Clapton para a belíssima "Love Comes To Everyone", do falecido ex-beatle George Harrison (que já havia tido versão em português cantada por Zizi Possi, nos anos 80, chamada "O Amor Vem Pra Cada Um"). A inclusão dessa canção talvez sirva para compensar a que foi, provavelmente, a maior ausência do magnífico Concert For George - cuja direção musical foi assinada pelo próprio Clapton.

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